quarta-feira, 2 de maio de 2012

O Ontem no Hoje

O mês de abril marcou o segundo ciclo de exibições do Cine Vídeo Cosme Alves Netto. Nas três semanas iniciais do mês foram exibidos: Cisne Negro, de Darren Aronofsky; Melancolia, de Lars Von Trier; e A Pele que Habito, de Pedro Almodóvar. Todos esses títulos se inserem no Ciclo de Destaques de 2011, no qual exibimos algumas das obras cinematográficas mais elogiadas do ano passado. E na semana passada, para fechar a etapa de abril, o filme escolhido foi Meia-noite em Paris, de Woody Allen.

Nesta obra de 2011, o diretor americano continua sua tendência mais recente ao deixar os cenários de Nova Iorque e partir para a Europa. E depois de gravar em Londres e Barcelona, é chegada a vez  de Paris. Gil Pender (Owen Wilson), um roteirista bem-sucedido de Hollywood, e sua noiva, Inez (Rachel McAdams), estão de férias na capital parisiense com os pais desta, que estão lá a negócios. Gil se apaixona pela cidade e diz abertamente a uma exasperada Inez que adoraria lá morar. Seu deslumbre apenas se intensifica quando, numa noite regada a muito vinho, ele se encontra numa estranha situação em que a sua amada Paris dos anos 20 ganha vida e alguns de seus ídolos, como Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald, lhe aparecem em carne e osso. Por fim, essa inesperada experiência acaba pondo em cheque tudo que Gil tinha em vista para seu futuro.

Woody Allen nos traz, assim, a ideia com a qual às vezes nos pegamos brincando: como seria  nossa vida caso houvéssemos nascido em outra época? Vicariamente, através do protagonista, temos um vislumbre do que foi o forte movimento artístico vivenciado na capital da França no início do século XX, sob as mais diversas vanguardas. Nesse sentido, o filme conta com um excepcional elenco de apoio, entre os quais constam Kathy Bates como Gertrude Stein, Marion Cotillard como Adriana e Adrien Brody como Salvador Dalí. À esse vislumbre contrapõe-se a visão capitalista e pragmática da esposa de Gil, a qual julga irreais as aspirações do marido.


Diante disso, somos postos frente à questão da aparente superioridade do passado. A cada viagem que o personagem principal faz aos anos 20, ele se convence mais ainda que está em uma era de ouro já impossível de ser resgatada pelo século XXI. A arte, as pessoas e o pensamento da época o deslumbram, no entanto, Gil se depara com o desapontamento de que mesmo os habitantes daquele tempo têm suas reservas em relação ao suposto apogeu em que vivem. O que fica é a impressão de que ninguém de fato está satisfeito com o seu tempo, mas é ele que nos cabe. Portanto, é com essa reflexão que o Cine Vídeo Cosme Alves Netto encerra o ciclo de abril, agradece a presença de todos que compareceram às sessões e aproveita para deixar o convite para o ciclo de maio, que tratará de produções do Oriente Médio. 

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