quarta-feira, 9 de maio de 2012

As Separações


Após os Destaques de 2011, exibidos durante o mês de abril, o Cine Vídeo Cosme Alves Netto inicia mais um novo ciclo, intitulado Oriente-se, que conta com duas produções iranianas e duas produções israelenses. O objetivo da iniciativa é dar um maior enfoque a títulos provenientes do Oriente Médio, pouco divulgados na Europa e na América. Dessa forma, o ciclo foi inaugurado na última quinta-feira, 9, com o filme de Asghar Farhadi, A Separação, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2012.

O longa trata da difícil relação entre o casal de classe média formado por Nader e Simin. Simin deseja deixar o país e criar a filha sob melhores condições, mas Nader prefere permancer no Irã, pois precisa tomar conta de seu pai, que sofre do mal de Alzheimer. O relacionamento entre os dois piora, contudo, quando Nader se vê envolvido em um complicado processo criminal contra uma empregada que contratara para cuidar do pai. Diante disso, o casal se depara com um impasse ainda mais sério que pode por um fim definitivo em seu casamento.

A Separação é uma importante obra que nos oferece um vislumbre da situação atual do Irã, especialmente aos nossos olhos ocidentais. Ela toca em diversas questões, desde as familiares até as jurídicas. Os problemas entre o casal são em última instância uma denúncia ao modo de vida iraniano. Embora nunca entre em detalhes, Simin claramente busca fugir de uma sociedade opressora às mulheres em comparação aos padrões ocidentais. A questão religiosa, da mesma forma, é questionada na figura da empregada, preocupada até mesmo com a possibilidade de que o fato de ter ajudado um senhor doente a se trocar fosse pecado. Por fim, até mesmo o direito iraniano é posto em questão, pois as grandes disputas do filme giram em sua maior parte em torno das futuras decisões da justiça.


Asghar Farhadi, enfrentando a forte censura de seu país, nos põe diante, portanto, de uma intrincada história. Ao longo do filme, as relações familiares e sociais apenas se complicam. Não somos postos diante de respostas fáceis aos conflitos. Pelo contrário, não sabemos em que lado ficamos, pois as personagens são tão bem construídas e tão complexas que já não se pode mais apontar uma que esteja coberta de razão, tal qual a vida real. Nesse sentido, o diretor sabe explorar bem seu telespectador e encerra sua obra com um final aberto, cabendo, assim, a nós tirarmos nossas próprias conclusões.

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