quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Ciclo de Animações de Dezembro

Chegado o fim do ano, o Cine Vídeo UEA iniciou mais um ciclo de produções. No último mês de dezembro tivemos o prazer de oferecer ao público três exemplares do gênero animação. No dia 1, a obra exibida foi Mary e Max, do australiano Adam Elliot e muito aclamada pela crítica; no dia 15, foi a vez de Waking Life, de Richard Linklater e produzido com a técnica de rotoscópio. O gênero, comumente ligado ao público infantil, ultrapassa barreiras etárias e é capaz de encantar públicos de todos os cantos do mundo, por isso não podíamos deixar de incluí-lo em nossas sessões.

Mary e Max, de 2009, se utiliza da popular técnica stop-motion, na qual uma sequência rápida de imagens cria no espectador a ilusão de movimento. A obra nos apresenta a agridoce história das personagens que dão título ao filme. Ela, uma garota australiana de 8 anos que vive com os pais negligentes; ele, um americano autista de 44 anos que mora sozinho em seu apartamento. Essa aparente incongruência entre os dois, no entanto, se desfaz a cada minuto do longa, no qual percebemos que as visões peculiares de uma criança e de um autista ajudam as duas personagens a entenderem o estranho mundo que os cerca. Os tons marrons e pastéis da vida de Mary são muito mais toleráveis para a menina quando suas dúvidas mais íntimas são partilhadas com seu amigo dos Estados Unidos. Já os tons cinzas e escuros da Nova Iorque de Max se contrapõem à sua alegria de ter pelo menos uma amiga. Enfim, a trama é um bom convite para repensarmos a realidade que queremos à nossa volta, desde aspectos emocionais até aspectos econômicos, e é nesse sentido que a obra é tão valiosa: é na simplicidade de uma amizade infantil que podemos achar a solução para tudo que nos prejudica.

Waking Life, de 2001, é um ótimo exemplo de como as animações podem contribuir não só esteticamente, mas também para reforçar o argumento de um filme. O longa foi inteiramente filmado com atores e posteriormente levado para o estúdio, a fim de que um grupo de artistas desenhasse sobre cada quadro. Essa técnica do rotoscópio se une harmonicamente ao tema proposto na obra: a natureza dos sonhos e da vida. A realidade dos atores e dos ambientes urbanos se confunde com as cores e as linhas desenhadas pelos artistas e criam um efeito único no espectador, o qual aceita a incerteza de estar assistindo a um sonho, à realidade ou aos devaneios do protagonista. Através de um desfile de discursos das mais diversas naturezas, somos postos diante de questões importantes como o existencialismo, o livro arbítrio e até a política, os quais, embalados por um estética colorida e cheia de movimento, constroem, em última instância, um longa complexo e repleto de camadas.

Com essas animações, concluímos nossas atividades no ano de 2011, mas com muitas ideias de novos ciclos para 2012. A arte do cinema, muito mais que mero entretenimento, é uma das formas de interpretarmos nossa realidade e até mesmo dar voz às nossas mais íntimas aspirações, por isso, de maneira alguma se esgotará. Dessa forma, pode-se esperar que o Cine Vídeo UEA - Cosme Alves Netto retomará suas atividades em março com muito mais títulos valiosos para dividir com o grande público.