terça-feira, 22 de maio de 2012

A Visita da Banda

Neste mês de maio o Cine Vídeo UEA - Cosme Alves Netto vem realizando mais um ciclo de filmes, intitulado Oriente-se. Este tem o objetivo de dar maior visibilidade a obras provenientes do Oriente Médio ou até mesmo apresentá-las a nós espectadores ocidentais. Os primeiros filmes exibidos nas semanas iniciais do mês foram, respectivamente, A Separação (2011), de Asghar Farhadi, e Gosto de Cereja (1997), de Abbas Kiarostami. Na semana passada não realizamos nenhuma exibição de acordo com este ciclo, pois apoiamos o III Colóquio Internacional Poéticas do Imaginário com a mostra de documentários acerca da Amazônia. O evento aconteceu na UEA nos dias 16, 17 e 18. Nesta quinta-feira, no entanto, retornamos com a nossa programação normal ao exibirmos A Banda (2007), do israelense Eran Kolirin.

O longa trata da chegada a Israel de uma pequena banda da polícia egípcia, convidada para tocar em um evento promovido pelas autoridades do Egito no local. Após uma falha de comunicação, contudo, o grupo de músicos acaba chegando a uma pequena cidade no meio do deserto, onde as circunstâncias os forçam a lá pernoitarem. Assim, conhecem alguns dos moradores locais e se deparam com as diferentes vidas daqueles cidadãos israelenses. A Banda era a escolha inicial de Israel para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro na época de seu lançamento, mas foi rejeitado pela Academia por ter mais da metade dos seus diálogos em língua inglesa. Ainda assim, o filme recebeu diversos prêmios em Israel e em outros países, tanto como melhor filme, quanto melhor ator, atriz, diretor, entre outros.

Eran Kolirin, através de sequências que mais parecem fotografias, nos coloca diante de duas culturas que se encontram no inusitado cenário de uma cidadezinha no meio do deserto de Negev. O que vemos não é exatamente um choque de culturas, pois não surgem de fato grandes impasses dessa aproximação. O que há é um olhar para o outro e ultimamente um olhar para o eu. Isso se evidencia na ótima interpretação de Ronit Elkabetz, na personagem de Dina, a dona do restaurante que acolhe dois dos membros da banda. Dina, que vive só em seu apartamento, dialoga com o maestro da banda e revela muitas de suas frustrações e aspirações a este reservado estrangeiro. De forma análoga, os outros membros da banda também tocam a vida dos moradores locais de formas que nem imaginam e vice-versa.


A Banda torna-se, assim, uma valiosa obra que lida com aspectos muito atuais da maneira em que o estar no mundo se dá hoje. Seu valor encontra-se justamente nesse encontro de realidades distintas que podem ter influências positivas ou simplesmente despertar uma nova forma de enxergar a nossa própria realidade de um ponto de vista diferente. Portanto, não deixe de prestigiar uma obra tão instigante quanto essa nesta quinta-feira, 24, às 18h na Sala Maria de Nazareth Xavier, na UEA - Escola Normal Superior, Avenida Djalma Batista, 2470. Contamos com a sua presença!

terça-feira, 15 de maio de 2012

O Sabor da Vida

Após a exibição de A Separação, de Asghar Farhadi, na primeira quinta-feira do mês; tivemos o prazer de exibir, no último dia 10, Gosto de Cereja (1997), um filme de Abbas Kiarostami. Ambos os títulos se inserem na programação do mês de maio planejada pelo Cine Vídeo Cosme Alves Netto. Trata-se do Ciclo Oriente-se, durante o qual exibimos essas duas produções iranianas e ainda exibiremos duas israelenses. Objetivamos, assim, dar mais destaque a obras produzidas no Oriente Médio, as quais raramente chegam ao nosso conhecimento.

Gosto de Cereja nos traz a história do Sr. Badii, que dirige seu carro pelos subúrbios de Teerã, a capital iraniana, em busca de alguém disposto a ajudá-lo em uma tarefa bastante incomum: enterrá-lo após seu suicídio. Badii encontra-se, então, com uma série de diferentes homens, de distintas crenças e necessidades, e é obrigado a se confrontar com seus motivos suicidas e até mesmo testar a sua força de vontade. Abbas Kiarostami nos põe diante, portanto, de uma delicada história cheia de diálogos significativos e motivos incertos.

Mais uma vez somos forçados a repensar nosso modo de vida ocidental diante de uma obra iraniana como essa. Em meio a um ambiente árido, presente na totalidade do longa, acompanhamos a partir do banco do passageiro a jornada do protagonista em busca de alguém necessitado o bastante para ser cúmplice de um atentado à vida. A religião, então, se faz muito presente e perpassa o discurso de todos os personagens com os quais Badii se depara. Mesmo nos subúrbios desérticos e miseráveis de Teerã, ele não consegue encontrar alguém disposto a deixar sua crença de lado para ser parte de um dos maiores pecados que se pode cometer sob aquela religião, ainda que a recompensa seja uma vultuosa quantia em dinheiro. Portanto, podemos constatar a hierarquia de valores oriental, que parece diferir, nesses aspectos, da nossa ocidental.


O diretor ainda nos dá a liberdade da especulação em alguns momentos. Durante toda a sua trajetória, o Sr. Badii nunca revela a seus possíveis ajudantes o verdadeiro motivo pelo qual deseja terminar sua vida. Percebemos apenas a determinação do protagonista em dar um fim ao seu sofrimento. Talvez essa proposital lacuna deixada pelo roteiro nos diga que muito mais importante que conhecer seus motivos suicidas é saber as razões pelas quais ele talvez não devesse cometer o suicídio; as razões pelas quais ele deve continuar a viver e a voltar a "sentir o gosto da cereja". Finalmente, temos um final aberto que pode confirmar essa suspeita. Apesar da aridez e da morbidez, o filme de Kiarostami é muito mais um filme sobre a vida e sobre o porquê de cultivá-la. 

quarta-feira, 9 de maio de 2012

As Separações


Após os Destaques de 2011, exibidos durante o mês de abril, o Cine Vídeo Cosme Alves Netto inicia mais um novo ciclo, intitulado Oriente-se, que conta com duas produções iranianas e duas produções israelenses. O objetivo da iniciativa é dar um maior enfoque a títulos provenientes do Oriente Médio, pouco divulgados na Europa e na América. Dessa forma, o ciclo foi inaugurado na última quinta-feira, 9, com o filme de Asghar Farhadi, A Separação, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2012.

O longa trata da difícil relação entre o casal de classe média formado por Nader e Simin. Simin deseja deixar o país e criar a filha sob melhores condições, mas Nader prefere permancer no Irã, pois precisa tomar conta de seu pai, que sofre do mal de Alzheimer. O relacionamento entre os dois piora, contudo, quando Nader se vê envolvido em um complicado processo criminal contra uma empregada que contratara para cuidar do pai. Diante disso, o casal se depara com um impasse ainda mais sério que pode por um fim definitivo em seu casamento.

A Separação é uma importante obra que nos oferece um vislumbre da situação atual do Irã, especialmente aos nossos olhos ocidentais. Ela toca em diversas questões, desde as familiares até as jurídicas. Os problemas entre o casal são em última instância uma denúncia ao modo de vida iraniano. Embora nunca entre em detalhes, Simin claramente busca fugir de uma sociedade opressora às mulheres em comparação aos padrões ocidentais. A questão religiosa, da mesma forma, é questionada na figura da empregada, preocupada até mesmo com a possibilidade de que o fato de ter ajudado um senhor doente a se trocar fosse pecado. Por fim, até mesmo o direito iraniano é posto em questão, pois as grandes disputas do filme giram em sua maior parte em torno das futuras decisões da justiça.


Asghar Farhadi, enfrentando a forte censura de seu país, nos põe diante, portanto, de uma intrincada história. Ao longo do filme, as relações familiares e sociais apenas se complicam. Não somos postos diante de respostas fáceis aos conflitos. Pelo contrário, não sabemos em que lado ficamos, pois as personagens são tão bem construídas e tão complexas que já não se pode mais apontar uma que esteja coberta de razão, tal qual a vida real. Nesse sentido, o diretor sabe explorar bem seu telespectador e encerra sua obra com um final aberto, cabendo, assim, a nós tirarmos nossas próprias conclusões.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ciclo de Maio: Oriente-se


Criado a partir da iniciativa de professoras e alunos da Escola Normal Superior, o projeto Cine Vídeo UEA - Cosme Alves Netto teve início em setembro de 2011. Nossas atividades envolvem a exibição semanal de filmes que estão fora do circuito mais comercial, servindo, portanto, como uma alternativa às grandes redes de cinema da cidade, as quais, em geral, dão maior preferência aos filmes americanos de alto orçamento. Trabalhando através de ciclos mensais temáticos, o projeto busca, assim, oferecer ao grande público acesso a obras cinematográficas de maior valor cultural.

Neste ano, já oficialmente aprovado como projeto de extensão da UEA, o Cine Vídeo retornou em março com o Ciclo do Metacinema e em abril com o Ciclo de Destaques de 2011. Neste mês de maio, portanto, inicia-se um novo ciclo, intitulado Oriente-se, que conta com duas produções iranianas e duas produções israelenses. O objetivo da iniciativa é dar um maior enfoque a títulos provenientes do Oriente Médio, pouco divulgados na Europa e na América. A programação é a seguinte:


As exibições terão entrada gratuita e ocorrerão em todas as quintas-feiras do mês (exceto a do dia 17), às 18h, na Sala Maria de Nazareth Xavier na Escola Normal Superior. Para mais informações, acesse nossa página no Facebook. Não deixe de prestigiar este projeto da UEA!

O Ontem no Hoje

O mês de abril marcou o segundo ciclo de exibições do Cine Vídeo Cosme Alves Netto. Nas três semanas iniciais do mês foram exibidos: Cisne Negro, de Darren Aronofsky; Melancolia, de Lars Von Trier; e A Pele que Habito, de Pedro Almodóvar. Todos esses títulos se inserem no Ciclo de Destaques de 2011, no qual exibimos algumas das obras cinematográficas mais elogiadas do ano passado. E na semana passada, para fechar a etapa de abril, o filme escolhido foi Meia-noite em Paris, de Woody Allen.

Nesta obra de 2011, o diretor americano continua sua tendência mais recente ao deixar os cenários de Nova Iorque e partir para a Europa. E depois de gravar em Londres e Barcelona, é chegada a vez  de Paris. Gil Pender (Owen Wilson), um roteirista bem-sucedido de Hollywood, e sua noiva, Inez (Rachel McAdams), estão de férias na capital parisiense com os pais desta, que estão lá a negócios. Gil se apaixona pela cidade e diz abertamente a uma exasperada Inez que adoraria lá morar. Seu deslumbre apenas se intensifica quando, numa noite regada a muito vinho, ele se encontra numa estranha situação em que a sua amada Paris dos anos 20 ganha vida e alguns de seus ídolos, como Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald, lhe aparecem em carne e osso. Por fim, essa inesperada experiência acaba pondo em cheque tudo que Gil tinha em vista para seu futuro.

Woody Allen nos traz, assim, a ideia com a qual às vezes nos pegamos brincando: como seria  nossa vida caso houvéssemos nascido em outra época? Vicariamente, através do protagonista, temos um vislumbre do que foi o forte movimento artístico vivenciado na capital da França no início do século XX, sob as mais diversas vanguardas. Nesse sentido, o filme conta com um excepcional elenco de apoio, entre os quais constam Kathy Bates como Gertrude Stein, Marion Cotillard como Adriana e Adrien Brody como Salvador Dalí. À esse vislumbre contrapõe-se a visão capitalista e pragmática da esposa de Gil, a qual julga irreais as aspirações do marido.


Diante disso, somos postos frente à questão da aparente superioridade do passado. A cada viagem que o personagem principal faz aos anos 20, ele se convence mais ainda que está em uma era de ouro já impossível de ser resgatada pelo século XXI. A arte, as pessoas e o pensamento da época o deslumbram, no entanto, Gil se depara com o desapontamento de que mesmo os habitantes daquele tempo têm suas reservas em relação ao suposto apogeu em que vivem. O que fica é a impressão de que ninguém de fato está satisfeito com o seu tempo, mas é ele que nos cabe. Portanto, é com essa reflexão que o Cine Vídeo Cosme Alves Netto encerra o ciclo de abril, agradece a presença de todos que compareceram às sessões e aproveita para deixar o convite para o ciclo de maio, que tratará de produções do Oriente Médio.