quarta-feira, 4 de abril de 2012

Ciclo de Abril: Destaques de 2011

Após termos exibido em março filmes como Cantando Na Chuva e Cinema Paradiso de acordo com o Ciclo do Metacinema, temos o prazer de convidar a todos os alunos, professores e funcionários da UEA, bem como a população manauara em geral, para prestigiarem a abertura de mais um ciclo, que ocorrerá neste mês de abril. Trata-se do Ciclo de Destaques de 2011. O ano passado nos trouxe valiosas adições ao rol de grandes obras cinematográficas, mas muitas delas, infelizmente, não chegaram aos nossos cinemas, ou, se chegaram, passaram pouquíssimo tempo em cartaz. Portanto, para, ao menos tentar, suprir um pouco dessa falta, preparamos a seguinte programação:

- 04/04: Cisne Negro, de Darren Aronofsky;
- 12/04: Melancolia, de Lars Von Trier;
- 19/04: A Pele Que Habito, de Pedro Almodóvar;
- 26/04: Meia-noite em Paris, de Woody Allen.

O filme que hoje será exibido, portanto, é o do diretor americano Darren Aronofsky, Cisne Negro, indicado a cinco categorias do Oscar e vencedor na categoria de Melhor Atriz, pela atuação de Natalie Portman. Embora seja oficialmente de 2010, só chegou ao Brasil no ano passado, por isso foi incluído neste ciclo. O longa nos traz a história de Nina Sayers, uma bailarina de Nova Iorque que é escalada para interpretar as duas personagens principais do famosíssimo O Lago dos Cisnes. Contudo, apesar de ser perfeita para o papel do Cisne Branco, Nina tem muitas dificuldades para lidar com o lado mais obscuro de sua personalidade e, assim, interpretar o Cisne Negro. Um desafio que a princípio porá à prova sua carreira acaba, então, pondo à prova sua própria sanidade.

O filme trabalha com alguns conceitos de obras consagradas como O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, e O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson. Dialogando em parte com o único romance de Wilde, a protagonista, através de sua arte, busca a todo custo a perfeição do belo em suas apresentações, o que a acaba consumindo e ocasionando uma ruptura de valores. De repente, tudo que havia em sua vida - profissão, relacionamentos e família, por exemplo - é diretamente afetado pela sua obsessão por uma personagem tão difícil de interpretar, já que possui uma índole muito diferente da sua. Nesse sentido, temos a relação com o romance de Stevenson, o qual nos oferece um debate entre nossas distintas forças internas, o lado do bem e o lado mal. A todo instante Nina ouve de seu diretor, Thomas (Vincent Cassel), que deve se soltar mais e liberar seu lado mais selvagem e primitivo, o que prova ser uma árdua tarefa para uma mulher que a vida inteira se dedicou ao balé por influência direta de uma mãe ex-bailarina,  carinhosa e rígida, que também, em contrapartida e a todo instante, diz quão meiga sua filha é.

Essa dualidade é, aliás, o tema principal do filme. Em inúmeras cenas podemos perceber a presença de espelhos. Na casa da Nina, nos banheiros, nos camarins e no teatro, esses espelhos representam muito bem a relação da protagonista com seu lado interior mais sombrio e como sua identidade aos poucos desmorona por deixar que ele transpareça. A propósito, esses reflexos não ocorrem apenas em espelhos tradicionais, mas em qualquer superfície refletora, como as portas do metrô ou mesmo o palco do teatro. Cada um desses motivos reforça a ideia do trajeto de uma personagem a quem assistimos sofrer por uma pressão externa e ao mesmo tempo autoimposta. Nesse ponto, o filme é uma verdadeira aula de narrativa psicológica que beira o terror. Em vários momentos nos perguntamos se estamos perdendo o juízo junto com a personagem de Natalie Portman. Com efeitos digitais magnifícos, vemos a transformação dolorosa de uma garota genuinamente meiga para o selvagem e sensual Cisne Negro, culminando em um final surpreendente e catártico.



Por fim, Darren Aronofsky nos põe, em última instância, diante de uma história que trata da nossa relação de amor e ódio para com a arte. Ao mesmo tempo que ama o balé e a rotina dolorosa dos bailarinos, a personagem principal acaba se desconstruindo pela pressão da perfeição e se perdendo, mas também se achando finalmente, no caminho. Processo semelhante ocorre também em outras artes, como na literatura,  pois a linguagem e a língua impossibilitam aos escritores de dizerem tudo que desejam, mas ao mesmo tempo, estes não podem deixar de tentá-lo e isso só é possível através da própria língua. Nossa arte, portanto, torna-se uma descoberta árdua que nos força a dialogar com nossa própria essência e buscar dentro de nós mesmos, a partir de pulsões tão opostas, aquilo que de fato julgamos ser belo. Assim, para ver como esses pólos opostos se dão na vida de Nina Sayers, compareça à Escola Normal Superior, às 18h, e prestigie Cisne Negro. Não perca!

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