quinta-feira, 15 de março de 2012

Cinema, Amor e Protesto

Após nossa estreia de 2012 na última quinta-feira com o clássico Cantando na Chuva, damos prosseguimento ao ciclo do metacinema com uma produção de 2003 do diretor italiano Bernardo Bertolucci. Trata-se de Os Sonhadores (The Dreamers), roteiro de Gilbert Adair baseado em seu próprio romance Os Inocentes Sagrados. O longa apresenta uma relação com o cinema distinta daquela presente em Cantando na Chuva. Este reflete sobre a sétima arte de um ponto de vista mais histórico - a passagem do cinema mudo para o falado -, já aquele se concentra na magia e na apreciação que ela causa em seus espectadores.

Os Sonhadores se passa na conturbada Paris do final da década de 1960, onde Matthew, um jovem intercambista americano, resolve passar um tempo para aprender a língua francesa. Um de seus hobbies na capital é ir ao cinema, à famosa Cinémathèque Française, na qual ele acaba por conhecer os gêmeos Isabelle e Théo, com quem pode dividir toda sua admiração pelos filmes. Concomitantemente, os protestos estudantis de 1968 em Paris ganham maior intensidade, mas a ligação entre os três torna-se tão forte que estes acabam se fechando para o mundo enquanto vivem sua estranha, e por vezes doentia, amizade.

O longa, através de seus protagonistas, apresenta uma relação muito íntima e apaixonada pelo cinema. Perpassada em vários momentos por recortes de filmes clássicos, a trama nos revela a paixão rebelde de três jovens que vivem o cinema e o trazem para suas vidas como forma máxima de expressão. Há uma fetichização da arte no sentido de que os  três se regozijam nos jogos sexuais de que brincam em torno dos filmes. Ao mesmo tempo, essa obsessão acaba tendo o efeito de afastá-los da realidade tumultuada dos protestos e das lutas sociais que ocorrem imediatamente do lado de fora do mundo praticamente hermético que eles criaram para si.

Dessa forma, Os Sonhadores também nos remete à alienação juvenil ao mesmo tempo inocente, romântica e rebelde. O desejo agudo de desvirtuar os valores tradicionais acaba por alienar uma juventude que se resguarda no ideal recriado das artes. Esquece-se, portanto, que as artes, mesmo sendo um fingimento, são em última instância uma ressignificação do real, uma recriação artística que fala o que a ciência não revela em seu pragmatismo. É claro que os protagonistas realizam uma ruptura, mas os detalhes serão revelados hoje, às 18h, na Sala Maria de Nazareth Xavier, na Escola Normal Superior, com a exibição na íntegra de Os Sonhadores de Bernardo Bertolucci. Não perca!

0 comentários:

Postar um comentário