quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Incrivelmente Abalável

Seguindo a linha das produções brasileiras, o Cine Vídeo UEA tem o prazer de informar ao público que o filme desta semana é Cronicamente Inviável, do diretor Sérgio Bianchi. O longa é composto de várias seções que em algum ponto se entrelaçam para formar um mosaico nada satisfatório acerca dos mais variados aspectos da realidade brasileira da virada do século, a qual obviamente não mudou muita coisa uma década depois. Retratando a história de várias personagens e viajando de norte a sul, Bianchi chega até a chocar os mais desprevenidos com a agudeza de suas cenas, as quais desvelam diante dos nossos olhos coisas que muitos de nós preferem não ouvir ou fingir que não lhes diz respeito. 

Muitos são os pontos de vista e as peças que formarão essa colcha de retalhos preocupante. Luiz (Cecil Thiré), o qual tira proveito de seus empregados, é dono do restaurante que ao mesmo tempo faz a ligação e causa o choque de realidade entre as personagens. Amanda (Dira Paes) é sua ríspida gerente que busca o lucro até mesmo através da exploração de necessitados. O casal Alice e Carlos (Betty Goffman e Daniel Dantas), por sua vez, representam a classe média-alta brasileira e trazem à discussão conceitos como caridade e culpa numa sociedade desigual, além da suposta trambicagem inata da tradição cultural do povo brasileiro. Já o pesquisador Alfredo  (Umberto Magnani) parece ser o único que realmente tem uma visão mais apurada do mundo que o cerca e aparenta querer mudá-lo, no entanto, percebemos que até os mais esclarecidos não se escusam de recorrer a  alternativas de moral questionável em proveito próprio. Finalmente, também nos é oferecido o ponto de vista das classes menos favorecidas através de personagens como Ceará (Leonardo Vieira) e Adam (Dan Stulbach), que se vêem imersos em um meio tão hostil e precisam descobrir como se adaptar a ele.

Apesar de pecar em certos aspectos técnicos como fotografia, a grande significância da obra se encontra nesse aspecto mais explícito de denúncia, no trato direto dos nossos problemas, sem a maquiagem que disfarça de certas produções globais. Cronicamente Inviável nos força, de maneira quase violenta, a prestar um pouco mais de atenção em questões como identidade cultural e dominação de todos os tipos no nosso cotidiano. Na tentativa de proporcionar ao espectador um panorama mais abrangente, a obra acaba nos convencendo quanto ao título que recebeu. Enquanto continuarmos com o status quo em que nos encontramos, segundo o qual a dignidade do homem está sujeita ao valor econômico que este representa perante a sociedade, teremos ainda diversas barreiras para superar rumo a uma sociedade mais honesta e mais humana, como sugere o desfecho da importante história de Sérgio Bianchi.


"A felicidade é uma perfeita forma de dominação autoritária."

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