domingo, 15 de abril de 2012

Calma e Caos no Fim do Mundo

Após a estreia de um novo ciclo no dia 4 com Cisne Negro, de Darren Aronofsky, nessa segunda semana de abril tivemos o prazer de realizar a exibição de Melancolia, do cultuado diretor dinamarquês Lars Von Trier. Trata-se do Ciclo de Destaques de 2011, que incluirá também, nas próximas semanas, A Pele que Habito, do espanhol Pedro Almodóvar, e Meia-noite Em Paris, do americano Woody Allen. Portanto, caso você não tenha visto tais obras nos cinemas de Manaus durante o ano passado, o Cine Vídeo UEA felizmente lhes oferece mais uma oportunidade para prestigiá-las.

Melancolia gira em torno de duas irmãs, Justine (Kirsten Dunst) e Claire (Charlotte Gainsbourg). Justine acaba de casar-se, mas claramente se encontra em um profundo estado de depressão, do qual nem seus familiares mais próximos conseguem resgatá-la. Claire, já bem estabelecida em sua vida, é casada e tem um filho. A iminência da passagem de um misterioso planeta pela Terra, no entanto, acaba influenciando diretamente o estado de espírito das duas irmãs, que se preparam de maneiras distintas para o possível fim do nosso planeta.

Diante de desafios como a criação digital de um planeta, a fotografia do longa de Lars Von Trier é um dos aspectos técnicos mais marcantes da obra. Nesse sentido, sua sequência de abertura merece um destaque especial. Nela, dialogando diretamente com a pintura através de uma sucessão de imagens em slow motion extremo, o diretor nos oferece vários vislumbres dos temas a serem tratados em Melancolia, construindo, assim, uma série de quadros mórbidos e simbólicos que mostram os últimos momentos da vida das personagens na Terra. Tudo isso ao som do prelúdio da obra Tristão e Isolda, de Wagner. Após revelar logo no início o final completamente oposto ao happy ending hollywoodiano, Lars Von Trier prossegue, então, com os momentos que o antecederam, dividindo a obra em duas partes, cada uma tratando de uma irmã.


Em entrevista, o diretor dinamarquês conta que a ideia original do filme se deu durante uma sessão de terapia na qual este tratava sua depressão. Segundo seu terapeuta, pessoas melancólicas tendem a agir mais calmamente em situações catastróficas, enquanto pessoas comuns são mais aptas a entrarem em pânico. Tal noção é claramente explorada em Melancolia. A própria estrutura do longa se reflete nesse conceito. A primeira parte, intitulada "Justine", nos mostra uma das protagonistas em depressão mesmo durante um dos eventos mais importantes de sua vida, seu casamento. Em contrapartida, na iminência da colisão entre os planetas, é ela quem mais se mantém serena e racional, ao contrário de sua irmã. Lars Von Trier, portanto, constrói sua história na justaposição dessas visões e conclui o destino de Justine e Claire comprovando sua proposta inicial com uma belíssima cena final. Assim, concluímos a segunda semana do Ciclo de Destaques de 2011 com um longa que não trata do fim do mundo com as explosões e a ficção científica que estamos acostumados a ver, mas de como diferentes pessoas podem reagir de maneiras diferentes em situações de estresse elevado.

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