sábado, 12 de novembro de 2011

Ohayo!

Dando prosseguimento ao ciclo de filmes japoneses inaugurado na semana passada com o anime O Túmulo dos Vagalumes, o Cine Video UEA dá um salto de meio século para exibir Bom Dia, comédia de 1959, dirigida por Yasujiro Ozu. Renomado por obras como Era Uma Vez em Tóquio, Ozu é uma das grandes referências do cinema de seu país, famoso, entre outras coisas, por seu estilo peculiar no uso da camêra e por não seguir os modelos de produção hollywoodianos. Na obra em questão o cineasta retrata o dia a dia dos moradores de um pequeno conjunto habitacional de uma cidade japonesa, dando foco às travessuras e desejos das crianças e a muitas vezes complicada relação entre vizinhos.

Esse olhar infantil é parte indissociável tanto do elemento cômico quanto da mensagem fundamental por trás da obra. As crianças estão diretamente ligadas ao desenrolar da história e suas ações acabam afetando os relacionamentos dos adultos de uma forma que eles mal imaginam. Aliás, essa relação entre a inocência juvenil e a experiência intolerante nos oferece uma questão linguística interessante. Os jovens, por ainda não estarem totalmente a par das convenções sociais, falam o que pensam do alto de sua sinceridade, assim, lançam suas dúvidas sobre a interação dos adultos ao verem que estes muito se cumprimentam com educação e civilidade, mas não dizem realmente aquilo que deve ser dito. Pelo contrário, essa incapacidade de transmitir o verdadeiramente essencial acaba levando-os ao desentendimento e às rixas mesquinhas de vizinhos.

Igualmente cômica são essas sequências em que vemos a articulação da vizinhança diante de um simples problema de fácil solução. Mesmo a distribuição geográfica das casas do conjunto contribuem para o sentido de que a proximidade e a aglomeração urbana aproximam as pessoas. O que nos leva a dois lados de uma mesma moeda. Primeiro, essa distância diminuta pode reforçar a ideia de que os problemas de um não são independentes dos problemas de todos, por isso, ao debatermos juntos determinado assunto, a solução pode se dar como um benefício geral. Segundo, essa vizinhança mais íntima pode levar à invasão de privacidade tão bem apresentada no filme, no qual nossa esfera de interferência extrapola nossas próprias paredes e se sobrepõe à dos nossos vizinhos. A solução não deve ser fácil, mas parece estar no equilíbrio.



Diante disso, são contrastantes as iniciativas de crianças e adultos. Estes agem baseados em puras suposições escondidas pelo véu da civilidade, o que torna suas relações um tanto quanto voláteis. Já aquelas se juntam num esforço obstinado para correrem atrás daquilo que lhes interessa, sejam quais forem as consequências de seus desejos sinceros. Portanto, Bom Dia é mais que uma comédia que retrata a vida cotidiana, com seus casos triviais e diversões infantis. É uma obra que nos põe cara a cara com questões importantes de uma vida em sociedade, já um pouco subestimada por seu caráter cotidiano.

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